Citado nas delações de executivos da Odebrecht, o presidente Michel Temer enviou nesta segunda-feira uma carta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em que classifica como “ilegítima” a divulgação de “supostas colaborações premiadas”. Temer também pede à PGR celeridade nas investigações em andamento. “Com isso, a eventual responsabilidade criminal dos investigados será logo aferida”, disse o presidente.
“A condução dessas e de outras políticas públicas a cargo da União vem sofrendo interferência pela ilegítima divulgação de supostas colaborações premiadas e investigações criminais conduzidas pelo Ministério Público Federal, quando ainda não completado e homologado”, escreveu o presidente.
A atitude de Temer ocorre após ele ter o seu nome e o da cúpula do PMDB citados na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. A estratégia do governo é questionar a legalidade da divulgação. O escalado, inicialmente, para fazer as críticas ao vazamento seria o senador Romero Jucá (PMDB-RR), mas, após diversas reuniões, o presidente decidiu tomar a iniciativa e assinar o documento à PGR junto com a advogada-geral da União, Grace Mendonça. No sábado, Janot informou que iria solicitar uma investigação para apurar o vazamento de anexo de delação da Odebrecht.
Na carta, Temer atribui a necessidade da celeridade nas investigações às “sérias crises econômica e política” que o país atravessa, destaca ações do governo para a retomada do crescimento e diz que o requerimento pela celeridade tem por objetivo ajudar o país.
Temer diz ainda que o vazamento das delações gera um clima de “desconfiança” e “incerteza”, obstruindo ações do governo. O presidente destaca que o “fracionado” e lento desenrolar dos procedimentos pré-processuais envolvendo “múltiplos agentes políticos funciona como elemento perturbador de uma série de áreas de interesse da União”.
O presidente destaca que seu governo está empenhado em reformas estabilizadoras para reverter os cenários social e macroeconômico de médio e longo prazo, reforça que a celeridade de uma resolução envolvendo as delações são medidas “indispensáveis à superação da situação fática vivenciada pelo País e que muitos prejuízos têm trazido à União e, consequentemente, a toda a população brasileira”.
A carta foi recebida às 16h55 por Janot, de acordo com a cópia do documento divulgado pelo Planalto.
Temer embarcou hoje à tarde para São Paulo, depois de uma série de conversas e articulações para tentar conter o estrago das delações e os problemas causados na base aliada, que já começa a apresentar insatisfações, sinalizando até mesmo alguns desembarques do governo.